Veneza

Indescritível...

Como descrever Veneza? O senso comum fala de sua beleza, seus canais, pontes e passeios de gôndola. A cidade tem seus detratores também: dizem que está sempre lotada de turistas, que é infestada por pombos e que vai afundar... É possível colher inúmeras informações e opiniões sobre a cidade, mas é tarefa árdua descrever plenamente o que é "estar em Veneza". Descrever como a cidade se apresenta a quem chega de barco, a luz refletindo na água, as formas das edificações se revelando ao som das gaivotas e do motor do vaporetto... É uma cidade singular, que acabou se tornando referência, pois muitas cidades de intitulam "venezas" (a veneza brasileira, a veneza holandesa...). É o lugar ideal para perde-se em boa companhia. 


Chegando em Veneza

É possível chegar a Veneza por avião (Aeroporto Marco Polo), mas muito comumente se chega por trem. Foi o nosso caso, vindos de Florença. O percurso durou em torno de duas horas e chegamos a Estação Santa Lucia ainda sem saber ao certo qual opção ideal para chegarmos ao hotel, apesar de termos pesquisado bastante previamente. Vimos os valores do táxi aquático, mas optamos por comprar um passe de vaporetto válido por 36 horas, pois já imaginávamos utilizá-lo para visitar Murano e Burano. 

Foi uma boa escolha, pois é um transporte público bastante utilizado pelos venezianos e o barulhinho do motor e o balanço suave acompanham você e suas memórias de Veneza por muito tempo. Escolhemos nosso hotel levando em consideração principalmente a localização e posso dizer que o  Kette Hotel superou as minhas expectativas. Umas das coisas boas de se visitar Veneza fora da alta estação (se é que isso existe no caso dessa cidade) é poder ficar a poucos minutos da Piazza San Marco pagando um preço bem acessível por isso. Muitos amigos meus, principalmente que foram por excursão, ficaram hospedados em Mestre por causa dos valores mais baixos. Creio que muito do encanto da viagem se perca nessa escolha...


Descemos na parada errada do Vaporetto, mas o erro foi providencial já que pisamos em "solo" veneziano na Piazza San Marco e fomos conduzindo nossas malas até o hotel, cuja parada era a seguinte. Ao chegar no hotel, logo após o check in, outra grata surpresa: ouvimos no quarto uma canção e, ao abrirmos a janela, demos de cara com um canal e uma gôndola passando. Parece lugar comum, mas que emoção! Que encantamento!

Primeiro dia: uma visão geral de Veneza

Teatro La Fenice
Nosso primeiro compromisso foi com um guia italiano muito gentil, o Massimo Tessari. Ele nos levou a conhecer a cidade, passando primeiramente pelo Teatro La Fenice, situado a poucos metros de nosso hotel. "A Fênix" é o principal teatro lírico de Veneza e foi, ironicamente, destruído por dois incêndio, sendo reconstruído novamente. Sua última reinauguração foi em dezembro de 2003. É possível agendar uma visita guiada ou se programar para assistir uma apresentação no mesmo teatro em que debutaram La Traviata, de Giuseppe Verdi ou La Bohème, de Giacomo Puccini.

 Massimo em frente ao Hotel Fantin

Seguimos nossa visita passando por vários pontos de interesse e ouvindo sobre a História de Veneza, como foi fundada, como se deu seu apogeu econômico e, inclusive, como é viver em uma cidade em que existem mais turistas do que residentes.

O poderio de Veneza está relacionado as relações comerciais com o Império Bizantino e, graças ao comércio marítimo e terrestre, se tornou a mais potente das Repúblicas Marítimas da Península Itálica. Veneza se destacava também por conta da República de Veneza, cuja origem remonta o final do século VII, quando os habitantes da região escolheram seu primeiro líder, que teria recebido o título de Doge.

O domínio do Mar Mediterrâneo determinou o poderio de Veneza até a queda de Constantinopla, e o início das navegações portuguesas e espanholas.

Já no fim do sec XVIII, Napoleão Bonaparte invadiu a Sereníssima República, cedendo-a posteriormente a Áustria em troca da Bélgica.

Continuamos nossa caminhada chegando até o Grande Canal, onde observamos a arquitetura dos palácios e conhecemos a história de Elena Piscopia, a primeira mulher no mundo a concluir uma universidade. Ouvimos também sobre Antonio Vivaldi, Il Prete Rosso (o padre ruivo), músico e compositor veneziano, autor das As Quatro Estações. Voltamos ao começo de nossa "história" em Veneza quando pisamos novamente na Piazza San Marco, que abriga, entre inúmeras edificações, a Basílica de São Marcos e o Palacio Doge



A Basílica, em arquitetura bizantina, é um obra prima, toda decorada em ouro e belíssimos mosaicos. Teria sido construída primeiramente em 828 e reconstruída posteriormente, sendo consagrada em 1094 e reconstruída mais uma vez em 1603. Abriga as supostas relíquias de São Marcos Evangelista, que teriam sido roubadas em Alexandria.

Ao lado da Praça, no Grande Canal, estão atracadas uma infinidade de gôndolas que dançam com a marola e são o símbolo máximo de Veneza. Enquanto o Massimo nos explicava porque as gôndolas tinham esse formato único, fizemos esse video.


Em seguida, caminhamos até chegar a Ponte dos Suspiros, que tem esse nome pois era o caminho dos condenados à prisão, que poderiam ver por uma pequena abertura o Grande Canal, antes de serem trancafiados.
Passamos também por uma oficina de máscaras venezianas e vimos como se dava o processo de fabricação, todo manual. As máscaras referem-se aos personagens da Comedia del Arte, que depois foram migrando para o Carnaval.


A máscara do Médico da Peste, por exemplo, era usada durante a terrível doença, de modo a evitar que o médico se aproximasse demasiado do paciente.

Assim como em Florença, esse primeiro contato com cidade pelas mãos de um guia foi essencial para ter uma visão geral da cidade e definir tudo o que veríamos posteriormente com mais calma. Ainda caminhamos bastante com o Massimo, que nos mostrou lugares importantes e pitorescos e, ao final, nos levou a um restaurante próximo ao nosso hotel. Apesar de ter gostado do prato, achei que o dono foi um pouco rude e prefiro não indicar o restaurante.

Vale aqui um comentário: na Itália, se come basicamente  antipastoprimo piatto, secondo piatto e dolce. ou seja, quatro pratos. Por questões culturais (ou de economia mesmo, já que estávamos na metade final da viagem), nós pedíamos geralmente o secondo piatto ou o primo piatto, sempre com o vinho da casa, para acompanhar. Não houve problemas em  restaurante italiano algum, porém, nesse restaurante em especial, meu marido cometeu a "afronta" de não comer nada, pois queria apenas beber... O dono ficou visivelmente irritado e não conteve os palavrões na cozinha. E nós ouvimos tudo, é claro. Ficamos chateados??? Que nada! Aprendemos os palavrões... He,he.

Segundo dia: Murano e Burano

Tínhamos intenção de ir a Murano utilizando o Vaporetto, mas ganhamos de cortesia um passeio de lancha até Murano para conhecer a Marco Polo Fornace, uma fábrica de vidros. Foi um trajeto bem rápido e muito divertido. É lógico que as oficinas tem todo o interesse de buscar possíveis clientes no hotel, na esperança de vender produtos em sua lojas. Eu realmente acabei comprando algumas coisinhas, mas era tudo muito caro.


A visita é bem interessante, já que a arte em vidro é uma tradição veneziana e são muito conhecidos os "cristais de Murano".  É possível fazer compras nas inúmeras lojinhas de rua, bem mais baratas que as lojas de fábrica, porém as compras em Murano não são pechinchas. Recomendo selecionar poucas peças de mais qualidade, do que encher a sacola de lembranças. Mas leve sempre em conta que esse é o ganha-pão de muitas famílias, nesse local essencialmente voltado ao turismo. Lembre-se que comprar é uma forma de valorizar e perpetuar o comércio e a vida das pessoas no local.


Fizemos um passeio ao longo dos canais, aproveitando o belo dia de sol nesse final de inverno. Murano rende muitas fotos incríveis e, a partir de lá, teríamos outro destino mais colorido e também encantador: Burano.

Para esse trajeto, pegamos o barco utilizando o nosso passe. Vale a pena conferir o horário previsto para chegada e se programar. O trajeto leva uns 30 minutos.


Burano é um encanto só! Por se tratar de uma ilha de pescadores, reza a lenda que as casas coloridas e contrastantes seriam para se diferenciar umas das outras, de modo que o esposo não se confundisse na volta para a esposa amada... Eu particularmente me encantei mais com Burano do que com Murano, pois é mais tranquila e o colorido é realmente fascinante. Nos informamos do horários do barco de volta e fomos curtir Burano, inclusive almoçamos por lá.

Lá existem várias lojinhas com artesanato, principalmente renda, que é a especialidade local, além de restaurantes e gelaterias.Na volta para Veneza, que deve ter demorado em torno de 45 minutos, fomos curtindo a vista e o balanço suave do barco. Eu confesso que dormi...


Descemos no Lido e fomos apreciando o caminho até chegar a Ponte Rialto. Já tínhamos passado por ela no primeiro dia, mas resolvemos curtir nosso por do sol nesse lugar mágico.

A Ponte é a mais antiga sobre o Grande Canal e um dos principais cartões postais de Veneza, sempre repleta de turistas e com um intenso comércio.

A primeira ponte nesse local era um estrutura flutuante, de 1181, sendo substituída por uma ponte de madeira e, finalmente, por uma ponte de pedra, construída entre 1588 e 1591. Esse ícone arquitetônico, projeto de Antonio da Ponte, é sustentado por 600 estacas de madeira.


Aliás, esse método construtivo, amplamente utilizado em Veneza, tem se mostrado tão bem sucedido, pois as estacas, com o tempo e a ação de minerais na água, se petrificam.


 E continuamos nossas andanças sem rumo por ruelas, canais e pontes, até encontrar a lua sobre a Basílica Santa Maria della Salute, cujo nome vem de uma promessa feita pelo doge Nicola Contarini, que jurou mandar erguer uma igreja dedicada a Virgem Maria quando a cidade se visse livre da Peste.



Terminamos o dia com um jantar em um Ristorante próximo ao nosso hotel, o Piccolo Martini, dica do Trip AdvisorFoi uma boa refeição depois de um dia bem movimentado.


Terceiro dia: cada um faz o que acha melhor...

Nessa último dia em Veneza (já estávamos viajando a mais de dez) e, depois de muitos museus em Roma e Florença, acordamos que cada um iria para onde achasse melhor... Então, os meninos resolveram ir simplesmente bater perna e as garotas foram conhecer o Palácio dos Doges. Compramos um ingresso que até dava direito a visitar mais atrações, porém resolvemos nos dedicar com calma ao Palácio e combinamos de nos reunir os quatro um pouco depois. Caminhamos pelo palazzo e cada uma de suas belíssimas salas, que ajudam a contar a História dessa cidade, incluindo a Sala do Conselho Maior, que tem uma pintura de Tintoretto, considerada a maior tela no mundo. Visitamos também a prisão, passando por dentro da Ponte dos Suspiros.

Passamos umas duas horas no Palazzo Ducale (como também é conhecido). Ao sair, nos encontramos com os meninos e fomos caminhando rumo ao San Polo, uma das partes mais antigas da cidade. Buscamos outros caminhos diferentes dos percorridos anteriormente, sempre na esperança de nos perdermos e encontrar uma perspectiva nova. E assim nos deparamos com uma equipe fazendo um ensaio fotográfico de moda, avós buscando netos na escola, compramos morangos em banquinhas flutuantes...



E o que podemos recomendar desse passeio? Nada em especial e, ao mesmo tempo, tudo. Se deixe fazer parte do cotidiano dessa cidade. Apesar da evasão de moradores, ainda há vida cotidiana longe do turismo de massa. Aproveite!


E o passeio de gôndola? É tipicamente turístico? É caro? É lugar-comum?
- Sim.
É bom, então, fazer?
- Siiiiiim!
Sei que existe uma tendência por se auto-intitular viajante, em detrimento da palavra "turista". Porém, digo com toda segurança: não tenha medo de ser turista! Desfrute do seu passeio de gôndola, de preferência, ao lado da pessoa amada.

O nosso gondoleiro, por exemplo, era uma graça e fez questão de aparecer nas fotos.

Em nossa última noite em Veneza, tivemos um jantar muito gostoso no Ai Coristi, bem próximo as Teatro la Fenice. Inclusive, ficamos observando a saída do público de um concerto, todos muito sóbrios e elegantes...


Até breve, Veneza!

A vontade de ficar mais e curtir cada minuto em Veneza era muito grande, mas acordamos cedo e tomamos aquele café reforçado no hotel, que por sinal, tem um croissant delicioso... Depois, era pegar o Vaporetto mais uma vez, só que agora rumo a estação e, de lá, um trem para nosso próximo destino: Verona!











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